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Oficina Virtual é realizada mesmo após ataque de hackers

A “Oficina Estadual Virtual do Projeto Sementes de Proteção: defendendo vidas” foi retomada em outra sala virtual após ataque dos hackers, nesta quarta-feira, 23/02. A proposta do encontro era debater os desafios da atuação de quatro defensoras incluídas no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos de Minas Gerais (PPDDH-MG) a partir das discussões sobre as redes de proteção popular no contexto das violações de direitos humanos. A quarta debatedora que discutiria sobre as violações de direitos em relação aos Povos e Comunidades Quilombolas, a defensora Maria Alves, não pôde participar por problemas pessoais.

A discussão teve início com a participação da professora universitária e psicóloga social, Márcia Mansur. A pesquisadora enfatizou quais são os fatores que constituem a rede e a necessidade da multidisciplinariedade e articulação com vários setores e movimentos. Ela reafirmou também que é fundamental a formação de uma rede física de garantia de direitos sociais. “A rede se faz por via das relações pessoais e, sobretudo, afetivas, que carrega em si um emaranhado de relacionamentos, pessoais e experiências que compõem a rede”, explicou.

Cacica Angohô da Aldeia Katuramã, povo Pataxó Hã Hã Hãe

Logo depois, a Cacica Angohô da Aldeia Katuramã, povo Pataxó Hã Hã Hãe, defensora incluída no PPDDH-MG, contou como faz o enfrentamento dos ataques quase que cotidianos ao território. A indígena explicou que para fazer frente às invasões de grileiros, a estratégia foi criar um grupo de WhatsApp com o máximo possível de atores que atuam em prol dos direitos humanos. Angohô acrescentou ainda que a comunicação mais rápida e assertiva para os momentos de crise é uma das formas de articulação da rede. “É necessário também educação de qualidade para a promoção dos diretos sociais e a garantia da sobrevivência dos povos indígenas e a proteção do nosso território. Estou cansada do massacre e assassinato dos povos indígenas”, protestou Cacica Angohô.

Engenheira de Mineração e defensora no PPDDH_MG, Ana Carla de Carvalho

Em seguida, a engenheira de mineração e defensora incluída no PPDDH-MG, Ana Carla de Carvalho, contou muito emocionada as repercussões físicas e psicológicas que vivencia durante o enfrentamento dos desmandos da mineradora Vale em seu território, em Ouro Preto/MG, e como a rede de apoio do Programa de Proteção foi fundamental neste processo. “Durante atuação como liderança na comunidade, tive a casa invadida, fui ameaçada de morte e precisei ser incluída no Programa de Proteção aos Defensores”, relatou a defensora. Ela foi atingida pela Barragem do Doutor quando a Vale fez a remoção de muitas famílias durante a pandemia sem aviso e com a desmobilização da rede de apoio.

Presidenta do Conselho Municipal de Saúde de BH e defensora no PPDDH-MG, Carla Anunciatta

No fim, a presidenta do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte (BH), psicóloga social e defensora incluída no PPDDH-MG, Carla Anunciatta, fez um breve relato sobre a constituição do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil e a importância dos movimentos sociais e as universidade públicas neste processo. A ativista também relatou que as ameaças que recebeu aconteceram quando defendeu o fechamento de BH durante o momento mais crítico da pandemia e precisou ser atendida pelo PPDDH-MG. “A saúde só se torna um direito depois de muita luta dos movimentos sociais, antes a saúde ficava à mercê da igreja e da solidariedade empreendidos por outros atores”, comentou ela ao explicar o papel da rede na construção da política pública de saúde.

SOBRE O PROJETO SEMENTES DE PROTEÇÃO

O projeto “Sementes da Proteção” visa fazer frente às violações dos direitos humanos que foram intensificadas nos últimos anos. A ideia é reorganizar lideranças e movimentos constituídos coletivamente para traçar estratégias de proteção popular dos defensores(as) engajados(as) na luta pelos direitos humanos.

O Instituto DH – Promoção, Pesquisa e Intervenção em Direitos Humanos e Cidadania em parceria com diversas entidades estaduais é a responsável pela execução das atividades do projeto Sementes de Proteção Popular: defendendo vidas em Minas Gerais.

SOBRE O ATAQUE HACKER

A “Oficina Estadual Virtual do Projeto Sementes de Proteção: defendendo vidas”, realizada pelo Instituto DH, na noite de quarta-feira, 23/02, via plataforma meet, foi invadida por hackers pró-Bolsonaro com ataques homofóbicos e xingamentos de baixo calão, vídeos e áudios de pornografia.

A invasão ocorreu quando o evento recebia mais de 60 pessoas entre as quais estavam: defensore(a)s, ativistas, militantes, gestore(a)s e profissionais das políticas de proteção, além de profissionais da segurança pública e de entidades da sociedade civil e do poder público que atuam em defesa dos direitos humanos por todo o Brasil.

Registro do ataque hacker
Registro do ataque hacker

A ação aconteceu quando a mediadora do evento e coordenadora do PPDDH-MG, Maria Emília, foi abruptamente interrompida com interferências no seu microfone, além de inserção de vídeos de pessoas com trajes militares e armas de guerra, sons de vídeos pornográficos, xingamentos racistas e homofóbicos, além de palavras de baixo e dizeres a favor da reeleição do Presidente da República, Jair Bolsonaro.

A coordenação do Projeto Sementes de Proteção, representada pelo ativista Paulo Carbonari, indicou a equipe do Programa de Proteção e ao Instituto DH que faça a denúncia do caso a delegacia de crimes virtuais em Belo Horizonte. A invasão foi amplamente registrada pelos participantes e organização do encontro.

O diretoria do Instituto DH divulgou ontem, 24/02, carta de repúdio e denúncia para toda sociedade civil e poder público informando sobre o ocorrido com o objetivo de sensibilizar e informar as autoridades e defensores(as) de Direitos Humanos que estejam ainda mais atentos e vigilantes nas atividades virtuais. A ideia é que possamos aprender com o fato e nos fortalecer ainda mais.

“Ao invés de nos calar, vamos ampliar nossas vozes na defesa dos Direitos Humanos para uma sociedade em que todos possam viver com dignidade e respeito. Tal premissa é o que fundamenta o trabalho do Instituto DH e no PPDDH-MG”, declarou Maria Emília.

Nota de Repúdio e Denúncia ao ataque de hackers em oficina virtual

O Instituto DH: Promoção, Pesquisa e Intervenção em Direitos Humanos e Cidadania vem a público denunciar e manifestar VEEMENTE REPÚDIO à invasão de hackers pró-Bolsonaro na sala virtual do evento “Oficina Estadual Virtual do Projeto Sementes de Proteção: defendendo vidas”, realizada quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022, por volta das 20 horas. O encontro tinha como intuito promover discussões sobre a redes de proteção popular em tempos de crise com defensores/as de direitos humanos.

O ataque foi marcado por interferências nos microfones do(a)s convidado(a)s e projeção de vídeos de pessoas trajadas com uniformes militares e com armas de guerra, sons de pornografia, textos com xingamentos homofóbicos, além de palavras de baixo calão e dizeres a favor da reeleição do Presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Tal ataque impossibilitou a realização do evento na sala inicial, tendo sido retomado em outra.

A programação foi interrompida quando a Oficina recebia mais de 60 pessoas entre as quais estavam: defensore(a)s, ativistas, militantes, gestore(a)s e profissionais das políticas de proteção, além de profissionais da segurança pública e de entidades da sociedade civil e do poder público que atuam em defesa dos direitos humanos em diversos cantos do país.

O Instituto DH entende que o ataque possui caráter político, uma vez que as ações dos hackers tinham como objetivo defender posições preconceituosas e que afrontam a política de direitos humanos que amplamente tem espaço nos discursos realizados pelo presidente Jair Bolsonaro e que amplificam diversas ações de violações de direitos humanos.

A ação será denunciada às autoridades policiais competentes como forma de pressionar as investigações e a responsabilização do(a)s envolvido(a)s. O encontro foi amplamente registrado pela entidade e participantes.

Nós, profissionais do Instituto DH e do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH-MG), bem como do Projeto Sementes de Proteção, nos solidarizamos com todas as pessoas atingidas por essa agressão ao mesmo tempo em que reiteramos o nosso compromisso por uma sociedade mais igualitária na qual os direitos humanos sejam o patamar da verdadeira luta por dignidade.

O Instituto DH entende, ainda, que ataques dessa natureza às lideranças e defensore(a)s e lutadore(a)s participantes daquele debate é também um grave ataque à democracia e à liberdade de expressão na luta por direitos humanos.

Sigamos na luta por todos os direitos para todas e todos.

Belo Horizonte, 24 de fevereiro de 2022

Instituto DH

Comunidade Quilombola de Croatá sofre com a cheia do rio São Francisco e são expulsos do território pela Polícia Militar e fazendeiro da região

Após representantes de Walter Arantes e seus jagunços expulsarem a comunidade de dentro do território, quilombolas acamparam do lado de fora, local onde os animais da comunidades já estavam. Fonte: Comunidade Tradicional Quilombola de Croatá

Os moradores da Comunidade Tradicional Quilombola, Pesqueira e Vazanteira de Croatá, da região de Januária, norte de Minas Gerais, começaram o ano de 2022 vivenciando os efeitos das enchentes no rio São Francisco devido às fortes chuvas e as ações intimidatórias do fazendeiro da região.

Após terem que se deslocar para regiões mais altas do território, os comunitários foram expulsos pela terceira vez por jagunços de fazendeiro e pela Polícia Militar do seu próprio território, no dia 05 de fevereiro. Toda a ação ocorreu momentos antes da montagem do novo acampamento em local que tinham a posse, uma vez que já realizavam a criação de animais de grande porte e cultivo de hortaliças para o próprio sustento até que as ações de despego foram executadas.

Na ocasião, após intensa negociação junto aos policiais, dois moradores da comunidade foram conduzidos ao Batalhão para o registro de ocorrência. Ambos, atendidos pelo Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PPDDH-MG), assinaram um Termo de Compromisso de Comparecimento ao Juizado Especial Criminal, marcado para o dia 27 de abril de 2022.

Enquanto isso, a Polícia Militar continuou a vigília das famílias e um caminhão do fazendeiro foi deslocado até o local para retirada dos moradores do acampamento. Temendo que o conflito ficasse violento, de forma coletiva, a comunidade decidiu ceder à pressão armada militar que arbitrariamente os expulsaram – mais uma vez, sem ordem de despejo e sob influência do “gerente” da fazenda – mulheres, homens, crianças e idosos, do seu próprio território tradicional.

Além de fugir das enchentes, a escolha do local para o acampamento não foi por acaso. Com o anúncio de retorno das crianças às aulas presenciais, os pais e responsáveis decidiram buscar a melhor localização para facilitar o acesso das crianças ao transporte escolar e outros serviços básicos, como proteção e saúde. No entanto, ao expulsar a comunidade, a polícia ainda ameaçou chamar o Conselho Tutelar, alegando que as famílias estariam com os menores ao relento.

Diante dessa situação de injustiça, as crianças foram encaminhadas para a casa de parentes, mas os demais moradores continuam acampados e aguardam providências das autoridades responsáveis, uma vez que no entendimento da comunidade, não cabe a Polícia Militar de Januária, atuar nesse caso, uma vez que não tem a devida competência legal.

Nesse sentido, a atuação arbitrária da Polícia Militar em conjunto com latifundiários tem sido uma ação recorrente no histórico das comunidades tradicionais quilombolas e, em Croatá, não é diferente. Os atores têm atuado com o apoio do Estado via agentes da segurança pública, no sentido de criminalizar as famílias como “invasoras” de terras, mas que apenas desejam viver com dignidade e seguindo seus modos de vida no seu território de origem, tendo, portanto, seu direito à moradia garantido.

SITUAÇÃO DAS FAMÍLIAS QUILOMBOLAS  

Pátio da residência de família tradicional Quilombola, Vazanteira e Pesqueira de Croatá em Januária, durante a cheia do Rio São Francisco, em Januária, fevereiro de 2022. Fonte: Comunidade Tradicional Quilombola de Croatá

Em função das chuvas intensas em todo o estado de Minas Gerais neste início de 2022, a Comunidade Tradicional Quilombola, Vazanteira e Pesqueira de Croatá encontra-se totalmente alagada, uma vez que o território faz parte da vazante do rio São Francisco e em tempos de cheia as águas sobem repentinamente.

Segundo os moradores, a cheia desse ano é pior desde a década de 80, quando a comunidade também sofreu os efeitos das enchentes, e consequentemente, teve suas terras invadidas logo em seguida, também por fazendeiros.

No momento, as famílias quilombolas encontram-se assentadas num ponto próximo à rodovia na região em barracos de lona aguardando as águas recuarem. O município tem dado o suporte básico com alguns suprimentos, mas os quilombolas afirmam que a Defesa Civil do município recusou a enviar o carro de abastecimento de água por julgar que a situação era de caráter privado e envolvia conflito com fazendeiro. Depois de várias denúncias dos quilombolas nas redes sociais, a Prefeitura regularizou o atendimento.

As lideranças quilombolas consideram a situação vivenciada humilhante. “Ter que ficar de fora do seu próprio território, exposto as pessoas que passam pela rodovia, com xingamentos preconceituosos e com risco de alguém nos agredir é uma situação horrível. Hoje eu sinto a dor do meu avô que morreu e teve as terras do Quilombo do Rio do Peixe disputadas no tiro”, relata liderança em entrevista. Hoje o Quilombo do Rio do Peixe, que pertencia ao avô de uma das quilombolas, pertence ao Walter Arantes, fazendeiro conhecido na região pelas disputas e apropriação das terras tradicionais quilombolas.

MESA DE DIÁLOGO

Temendo que o conflito pudesse resultar em ações violentas, o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) e outras entidades de apoio, como o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), solicitaram as autoridades do estado a realização da Mesa de Diálogo, instância criada para mediar e solucionar conflitos de natureza socioambiental e fundiária.

Cerca de 15 dias após a realização da Mesa com a presença de diversas autoridades da Justiça como a Defensoria Pública, Ministério Público; representantes do município de Januária; profissionais de órgãos ambientais e de regularização fundiária; além das partes envolvidas no conflito – a Comunidade Quilombola de Croatá recebeu mais um processo do fazendeiro Walter Arantes, alegando porte de armas por parte dos comunitários.

Tal processo reflete a posição irredutível de Walter Arantes e seus advogados durante a Mesa de Diálogo, marcada por falas racistas e que tem por objetivo desqualificar a Comunidade Tradicional na tentativa também de criminalizá-los como invasores do território que por direito, cultura e tradição os pertencem. Também, para uma das lideranças quilombolas, a Mesa de Diálogo provou que Walter e seus advogados não querem diálogo.

A LUTA PELO TERRITÓRIO TRADICIONAL

Mapa da Cartografia Social do território da Comunidade Quilombola Pesqueira e Vazanteira de Croatá. Fonte: Comunidade Tradicional Quilombola de Croatá

A Comunidade Quilombola Tradicional, Vazanteira e Pesqueira de Croatá tem suas origens às margens do rio São Francisco.

Parte de suas terras pertencem à União e o processo de demarcação do território não foi finalizado. No entanto, a Comunidade é certificada pela Fundação Palmares como Comunidade Remanescente de Quilombo e mantém processo no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) que contém o relatório antropológico, elaborado pelo Núcleo Interdisciplinar de Investigação Socioambiental (NIISA), da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) e com registro no Cadastro Ambiental Rural (CAR).

O relatório antropológico é o primeiro passo para emissão do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), que se mantém totalmente paralisado devido à política de governo de total exclusão da temática e perseguição declarada aos povos tradicionais, resultando em cortes orçamentários que inviabilizam a continuidade do processo, resultando em conflitos como da Comunidade Quilombola de Croatá e latifundiários como Walter Arantes.  

A luta pela regularização do território do Croatá vem desde 2013, junto à Secretária de Patrimônio da União (SPU), que chegou a emitir uma nota técnica declarando a área indubitável da União. No Incra, o processo de regularização do território quilombola tramita desde 2018.

Na região, o conflito com o fazendeiro, latifundiário, empresário, dono das redes de supermercados EPA, Mineirão e BH, Walter Arantes é marcadamente direcionada à criminalização das comunidades quilombolas visando, inclusive, ampliar as cercas de sua propriedade para terras públicas da União, terrenos marginais do rio São Francisco e áreas reconhecidamente quilombolas, mas que por morosidade e omissão do Estado ainda não possuem o título oficial do processo de regularização do território tradicional.

Na Justiça, dois processos de reintegração de posse já foram movidos pelo proprietário na tentativa de intimidar a comunidade de Croatá. Além disso, a Polícia Militar da região atua descaradamente em favor de Walter Arantes, agindo na maioria das vezes como “seguranças particulares” da propriedade do fazendeiro, mesmo com os processos tramitando na esfera federal. Este posicionamento, inclusive, foi fortemente criticado pelas autoridades da justiça durante a Mesa de Diálogo.

Sendo assim, a percepção é que a Polícia Militar, ao atender o fazendeiro, desconhecendo os direitos das comunidades e a existência dos processos envolvendo uma dos maiores latifundiários do Estado de Minas Gerais (preso na Operação Lava Jato), ao invés de conduzir a situação pela proteção e direitos dos cidadãos, age em prol de interesses privados.

De acordo com o boletim de ocorrência, mesmo os policiais tendo escutado e registrado que os animais da comunidade estavam na área de posse da comunidade, resolveram atender a demanda do fazendeiro expulsando os quilombolas que somente fugiam das enchentes e das chuvas.

COMUNIDADES TRADICIONAIS QUILOMBOLAS E AS AMEAÇAS AOS SEUS MODOS DE VIDA

A região do Norte de Minas, em específico, nas Barrancas do Rio São Francisco é marcada por uma longa história de expulsão de povos tradicionais e grilagem institucionalizada de terras da União.

O estilo de vida de seus antepassados, com profundos vínculos territoriais que incluem áreas vazanteiras (alagáveis, com lagoas marginais, berçários de peixes do rio São Francisco), sempre esteve ameaçado por grileiros, que, desde o tempo de antigos, utilizam da força bruta e das relações institucionais para expulsar os povos tradicionais originais destes territórios.

Por alguns anos, parte desse povo resistiu nas periferias das cidades, mas, o sustento, comida e trabalho sempre esteve atrelado ao rio e a essas áreas de vazantes. Atualmente o contexto de ataques aos direitos dos povos tradicionais têm cada vez mais diminuído as ações institucionais para regularização das terras tradicionais. Tal cenário tem gerado violência local que se manifesta em ameaças por funcionários do fazendeiro e grileiros que se espalham no Norte de Minas Gerais.

ATUAÇÃO DO PPDDH-MG E ENTIDADES PARCEIRAS

O Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH-MG), executado pelo Instituto DH, por meio de sua equipe técnica, vem acompanhando as diversas situações de violação de direitos vivenciadas pela Comunidade Tradicional Quilombola desde 2017.

A proposta do PPDDH-MG é acionar a rede de proteção do município e do Estado – sociedade civil, poder público e judiciário – com o objetivo de mediar e acionar mecanismos e instâncias institucionais para promover a aplicação e execução das políticas públicas para pessoas e comunidades que sofrem sistematicamente violações de direitos humanos.

No contexto da Comunidade Tradicional Quilombola de Croatá, o PPDDH-MG, tem intensificado as denúncias dos quilombolas no que tange a demora do processo de regularização do território e as constantes ameaças vivenciadas pelos defensores. Além disso, a equipe realiza o acompanhamento jurídico e das ações de proteção realizadas pelos órgãos de saúde, educação e assistência social.

Várias entidades locais atuam no sentido de dar visibilidade e apoio institucional à situação da Comunidade de Croatá, entre elas, o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), a Associação Comunitária Quilombola Pesqueira e Vazanteira Croatá (ACQPVC) e Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil. Como encaminhamento de apoio, serão realizadas diversas ações de comunicação para ampliar o debate sobre a necessidade e a importância de regularização dos territórios quilombolas por toda Minas Gerais e o país.

Por Assessoria de Comunicação PPDDH-MG

18 de de fevereiro de 2022

Segunda Oficina Estadual Virtual do “Sementes de Proteção” debate as redes de proteção popular em tempos de crise

Programação – Oficina Estadual Virtual de MG

A articulação em “Rede” no contexto das entidades do terceiro setor, movimentos sociais e poder público ainda é um grande desafio no enfrentamento das violações de direitos humanos, sobretudo, na atual conjuntura de desmonte de diversas políticas públicas impostas pelo governo e aqueles mais alinhados ideologicamente. As “Redes” de apoio, portanto, nunca foram tão necessárias.

Nesta perspectiva, é imprescindível que os defensores/as de direitos humanos reinventem seus modos de atuação na militância visando aprimorar suas formas de luta em diversos contextos que permeiam suas relações sociais na tentativa de fazer frente às violações de direitos. 

Para contribuir com o debate, o projeto “Sementes da Proteção: defendendo vidas “executado em Minas Gerais pelo Instituto DH, realizará no dia 23 de fevereiro de 2022, quarta-feira, às 19h, via plataforma Meet, a segunda oficina com o tema “Direitos Humanos: redes de proteção popular em tempos de crise”.

A proposta da atividade é abordar os desafios das lutas de defensores de direitos humanos em suas respectivas áreas e como se dá a atuação em rede neste momento de aumento das ameaças e criminalização de pessoas e grupos que atuam na defesa dos Direitos Humanos.

Participarão do evento, defensoras incluídas no Programa de Defensores de Direitos Humanos de Minas Gerais (PPDDH-MG) e especialistas ligadas a quatro frentes temáticas que, normalmente, demandam mais políticas de proteção da sociedade civil e do Estado. São elas:

  1. Ana Carla Carvalho Cota: Engenheira e atua em defesa dos atingidos por barragens de mineração. Defensora atendida pelo PPDDH-MG.
  2. Maria Alves: Especialista em educação no campo, atua em defesa dos direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais Quilombolas. É Quilombola, Agricultora Familiar, Diretora de Políticas Sociais e Previdência da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (FETAEMG). Defensora atendida pelo PPDDH-MG.
  3. Célia Patáxo : Cacica Angorô na Aldeia Katuramã, povo Pataxó Hã Hã Hãe. Atua em defesa dos Povos e Comunidades Tradicionais Indígenas. Defensora atendida pelo PPDDH-MG.
  4. Carla Anunciatta: Presidenta do Conselho Municipal de Saúde de BH – CMSBH; Psicóloga Sanitarista (UFMG); usuária do SUS-BH, militante em defesa do Controle Social e da Saúde Pública, e defensora atendida pelo PPDDH-MG.
  5. Márcia Mansur: professora, psicóloga social e estudiosa sobre redes de proteção.

PROGRAMAÇÃO DO EVENTO

19hRecepção aos participantes
19h10Dinâmica interativa (Mística)
19h15Sementes de Proteção: articulações em rede
19h25Apresentação Instituto DH/PPDDH-MG e objetivos da atividade
19h30Relato de experiência: Maria Alves (Povos Quilombolas)
19h40Relato de experiencia: Ana Carvalho Cota (Mineração)
19h50Relato de experiência: Célia Pataxó (Cacica Angohô/Povos Indígenas)
20hRelato de experiência: Carla Anunciatta (Direito à Saúde)
20h10Relato de experiência: Márcia Mansur (Professora universitária, psicóloga social e estudiosa sobre redes de proteção)
20h20Plenário final / Considerações finais / Agradecimentos

SOBRE O INSTITUTO DH E PPDDH/MG

O Instituto DH é uma organização do terceiro setor responsável pela execução do Programa de Defensores de Direitos Humanos em Minas Gerais (PPDDH-MG) e atua no atendimento e acompanhamento de casos de risco e de ameaças a defensores/as, bem como de violações de direitos humanos em todo o Estado. O PPDDH é uma política pública prevista em decreto estadual e federal estabelecido pela Política Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PNPDDH).

SOBRE O PROJETO SEMENTES DE PROTEÇÃO

O projeto “Sementes da Proteção” visa fazer frente às violações dos direitos humanos que foram intensificadas nos últimos anos. A ideia é reorganizar lideranças e movimentos constituídos coletivamente para traçar estratégias de proteção popular dos/as defensores/as engajados/as na luta pelos direitos humanos.

O Instituto DH – Promoção, Pesquisa e Intervenção em Direitos Humanos e Cidadania em parceria com diversas entidades estaduais é o responsável pela execução das atividades do projeto Sementes de Proteção: defendendo vidas em Minas Gerais.

PÚBLICO E INSCRIÇÃO:

A Oficina Estadual Virtual de Minas Gerais do projeto Sementes de Proteção: defendendo vidas é aberta ao grande público, em especial, aos/as defensores/as de direitos humanos do Estado, assim como representantes de grupos, movimentos, coletivos, entidades e organizações da sociedade civil e do poder público que atuam em prol dos Direitos Humanos e que desenvolvem ações articuladas com diversas redes de proteção. Convide a sua rede de apoio!

As inscrições devem ser realizadas no seguinte link:  https://forms.gle/3CDViotueFFi8UVQA

PLATAFORMA DO EVENTO:

Será realizada pela plataforma meet.

Link da videochamada: https://meet.google.com/fhw-zrvx-zaj

Abertura da sala: 18h55

SERVIÇO:

Oficina Estadual Virtual de Minas Gerais do projeto Sementes de Proteção: defendendo vidas

Data: 23/02/2022, quarta-feira

Horário: A partir das 19h

Inscrições: https://forms.gle/SY4Y1HY9LjYpiVWo8

Plataforma Meet: https://meet.google.com/fhw-zrvx-zaj

Redes Sociais: @institutodhorg

Mais informações:

Maria Emília: (31) 99737-8898

Diretora do Instituto DH e coordenadora do PPDDH/MG

Guilherme Couto: (31) 99699-3349

Articulador e produtor do evento

Nota de Pesar: Tilden Santiago

O Instituto DH está em luto.

Morreu, aos 81 anos, vítima de complicações da Covid, o ex-deputado federal, jornalista, professor e embaixador do Brasil em Cuba durante o primeiro governo Lula, Tilden Santiago.

Tilden dedicou sua vida a luta política e foi preso duas vezes durante a ditadura militar. Natural de Nova Era, integrou a Ação Libertador Nacional (ALN), movimento de resistência ao golpe de 64 e foi uma dos fundadores do PT e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Durante sua trajetória, Tilden ajudou a construir alicerces profundos para a defesa dos direitos humanos em Minas Gerais e todo o Brasil.

O Instituto DH e toda sua equipe de colaboradores lamentam profundamente a partida e deseja os mais sinceros sentimentos aos amigos e familiares.

Tilden Santiago, presente.